Dejavú
A impressão que tenho algumas vezes, quando estou diante de certas situações, é a de que já as vivenciei. É como se eu já tivesse visto a sequência dos fatos antes de todo mundo. O problema, porém, e isso é o que mais me intriga, é que o final dos fatos nunca é como na, digamos, previsão. Parece mesmo que esse tal Dejavú só acontece para evitar que as coisas terminem como deveriam terminar.
Eis que um dia a professora de Português pede para fazermos uma redação - uma crônica, para ser mais exato. E não é que me vem esse tal Dejavú!
Como que em transe, começo a visualizar toda a atividade: a sala em silêncio, as recomendações da professora, o nervosismo de alguns alunos ante o desafio de uma redação e, é claro, a minha tranqüilidade, a minha soberania. Sim, eu estava me sentindo um soberano da literatura. O meu causo já estava na ponta da língua - quero dizer, na ponta da caneta, pronto para surpreender as expectativas da professora com a melhor crônica da classe.
Sobre o que eu iria escrever? Ah, o pior é que eu não sabia. Porque na verdade o Sr. Dejavú não pôs somente um causo na ponta da minha esferográfica, mas vários. E mais ainda: ele não teve o bom senso de me avisar que o tempo estava passando e que eu precisava me decidir.
E passando foi o tempo... os outros alunos, entregando seus textos... a professora já corrigindo-os... e eu...? Bom, eu tamborilava a mesa com as pontas dos dedos, como a embalar a fuga da minha criatividade montada num Dejavú também fugitivo. E olha que eu sabia que uma crônica era um texto não muito longo, sobre algo do cotidiano e engraçado, sem muitos personagens e não sei mais o quê. Mas a danada não me saía e a professora já me perguntava repetidas vezes se eu já havia terminado.
De repente, uma luz! Ou melhor: uma escuridão!!! A professora estava vindo em minha direção. Só restávamos nós dois na sala. E veio-me outra visão, outro Dejavú. Triste. Desolador.
Apenas para me complicar, dessa vez o fim dos fatos foi igualzinho ao da minha visão. Para a minha infelicidade, o Dejavú não alterou em nada a minha real situação. Pois a professora me dispensou sem que eu tivesse feito nada de crônica. Sem que eu tivesse nada para comentar com os outros "cronistas". Enfim, sem nenhuma avaliação.
(Dinho, eu mesmo- 03/2009)
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