quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Uma crônica para se pensar um pouco

Eu, Sociedade Brasileira, e minhas educações

Olá, meu caro leitor! Meu nome é Sociedade e eu gostaria de falar um pouquinho sobre a minha pessoa. Sim, considero-me como uma pessoa, pois sou exatamente como tal, inclusive no que diz respeito às minhas crises existenciais.
Como sei que você é um ser que não se atém muito a colocações e relatos prolixos, não pormenorizarei a minha autocomparação, de modo que me limitarei a dizer que, assim como você é composto de corpo, mente e espírito, sou composto, análoga e respectivamente, de economia, ideologia e política; tríade esta que faz de mim uma entidade dividida em, no mínimo, três classes, a baixa, a média e a alta. E esta minha composição está diretamente ligada ao maior dos meus problemas (“problema” segundo você mesmo e as demais pessoas, meu caro leitor), que é a Educação. Aliás, já não falarei mais de mim mesma como um todo, mas tão e somente dessa minha criação.
Ora, ocorre que, como tudo o que é vivo, eu comecei bem pequena, tal qual uma família. E, obviamente, a minha existência incipiente era muito mais fácil e harmoniosa, visto que eu não carecia de tantos fatos e processos dos quais necessito hoje. Porém, fui crescendo, aumentando o meu número de células – das quais você é uma –, e me transformando em um complexo cada vez maior, tornando-me cada vez mais complicada; precisando, inclusive, de um adjetivo como sobrenome, que é “brasileira” – Sociedade Brasileira. Assim sendo, não há outra forma de eu cuidar da minha própria existência senão mantendo a ordem entre o meu corpo, a minha mente e meu espírito; de modo que um trabalha, o outro organiza e comanda o trabalho, e o último idealiza e cria as condições e situações para que eu continue existindo.
Agora, meu caro leitor, responda-me. Você crê que minha existência seria possível, se minhas células fossem todas iguais e em todos os sentidos? Veja, meu caro, são justamente as diferenças que fazem a perfeição, e esta está sempre para ser alcançada através das tentativas de superação das primeiras por parte de cada uma das minhas células; compreende? Por fim, digo que todas têm, por natureza, o direito de se acomodar em qualquer uma das minhas três dimensões; mas devo me autocontrolar para que elas não se tornem totalmente iguais, migrando para apenas uma dimensão e eu entre em colapso. Para tanto, eu preciso mantê-las separadas em grupos e subgrupos, nutrindo-as de acordo com o grupo e dimensão da qual fazem parte. Essa nutrição, finalmente, é a Educação. Então, ado, a-ado, meu caro leitor! Cada qual no seu quadrado!
Portanto, meu caro, e como sei que você já está se cansando de me ler, resumamos o meu blá-blá-blá da seguinte forma: dou uma certa educação para as células que DEVEM trabalhar e me alimentar – a básica necessária para que desempenhem seus afazeres; e uma educação mais, digamos, diferenciada para as células que organizam e comandam minhas necessidades e trabalhos, e para as que idealizam e criam as situações e condições para que eu possa continuar existindo; de modo que até mesmo a segunda educação será subdividida em graus de relevância – mas deixemos isso de lado.
Para finalizar, meu leitor, digo que se você, como uma célula social que é, quiser sair da dimensão e, consequentemente, da classe nas quais se encontra, e isso somente lhe será interessante se estiver na dimensão do meu corpo “físico”, deverá preparar o terreno para suas crias; pois você mesmo jamais o conseguirá, a menos que por uma obra excepcional do destino. É isso e BOA SORTE, meu amigo!
 (Dinho, eu mesmo - 10/2011)

domingo, 18 de setembro de 2011

(Sem título)

Entrego-me a ti
Como a terra sedenta que se deixa embeber pelas chuvas esparsas
Mergulho-me em ti
Como a própria terra que em si se afunda a procura das águas em suas próprias profundezas

                                     Sou eu a terra que a chuva aguarda
                                     Enquanto és tu o dilúvio que me aplaca a sede

E sou eu ninguém
Esperando teu ser para que eu possa ser


                                   E então serei a própria perfeição
                                  Já que estarás em mim e seremos apenas um


(Dinho, eu mesmo - 09/2011)
 

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

À rosa mais bela que já avistei

Uma Rosa

Por várias e longas estações,
                Quedou-se vazio o meu terreno.
                                   Não houve ali as tentações
                                                     Que o tirassem do estado sereno.



Agora, neste nosso inverno,
               Surgem em minhas terras ramos lindos...
                                  Trazendo ao mundo o que era interno,
                                                         Tornaram-se eternos os tempos findos.



E qual terreno, senão meu peito,
                        Será o mártir que agora respira,
                                          Ao sentir o perfume perfeito
                                                         Da linda rosa a que ele aspira?




(Dinho, eu mesmo - 08/2011)


sábado, 13 de agosto de 2011

À solidão



Um olhar, um contento;
Uma palavra, um alento.

Um desprezo, um tormento;
Um afago, renascimento.



(Dinho, eu mesmo - 08/2011)

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Homenagem a um objeto da vida

A livre

Serei teus olhos,
Pernas e braços,
Teus poros.

Serei teus prantos
E encantos,
Teus espantos.

Serei teu alívio,
Teu suplício,
Teu viver.

Serei um alguém,
Um você,
Ou um qualquer.

Serei teu homem,
Uma filha,
Tua mulher.

Serei coisa fácil,
E moleza,
E carne dura.

Serei ora ágil,
Ora complicado.

Mas do mundo,
Comigo, terás
Múltipla leitura.
Porque sou o livre.


Dinho, eu mesmo - 08/2011



terça-feira, 5 de julho de 2011

Poemas e poetas

Rimas internas com temas eternos:
          A Arte impera em nosso inferno.

                     Arte com "A" maiúsculo:
                             Almas que não tem músculo,
                                        E que incidem como crepúsculo
                                                              No obscuro claro do céu.


E qual nosso será o papel
Para quem com através do véu     
Não visa a gama de mel                         
Existente no sujo chão?                                        


Planamos neste orfeão
Desafinando os fatos de cão,
E sentindo o mundo então
Como um não qualquer comum

E tantos entre somos um,
Que o mundo vê como em zum,
E que o exibe através dos eus,
Como se fôssemos nós o próprio Deus...




(Dinho, eu mesmo -07/2006)

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Humano: tridimensionalmente desequilibrado

Ser humano é trifásico!
(Permitam-me aqui o trocadilho,
já que, com o artigo, o sentido seria básico.)
Mas nenhuma delas lhe dará trilho.


                   Pois é preciso que se resumam suas três fases num só terreno.
                                                   Ser bicho, ser deus e ser gente;
                                                   Ser alegre, ser triste e sereno.
                  Isso posto sob equilíbrio, será o homem um bom agente.


E em tudo mesmo o humano é três:
Espírito, corpo e mente;
Amizade, convenção e leis;
É ferível, é pensante e é crente.

E por que não consegue o humano a temperança?
Ou é um, ou é outro, ou ainda o terceiro;
Mas nunca a síntese da esperança.
Sempre fugitivo, sempre omisso, ou sempre guerreiro.

Manhã, noite, tarde;
            Criança, adulto, adolescente.
                                     Cada qual com seu alarde,
                                                        Cada qual com seu (tempo) presente.

O humano é criança, pois dota-se de inocência;
                           É também adulto, pois se acha um todo consciente.           
Porém é mais adolescente, com sua pseudoconsciência                      
E seu falso ar de inocente.                                                                                      






quinta-feira, 9 de junho de 2011

O castigo segundo os avós

Lembram-se  da grande chuva,
                De águas potentes e turvas,
                           Que num tempo a nós precedente
                                       Findou os podres e seus coniventes?


Limpado de tudo o que havia de imundo,
Límpido e pleno tornou-se o mundo.
Apenas um bom e seus seguidores,
Dignos de piedade, viveram em flores.


Também se salvaram os pobres irracionais.
Do grilo ao elefante, formaram-se casais.
E ao fim de algum tempo, o sinal da Oliveira:
A água fora cessada, e eles viveram uma vida inteira.


        Isso é um aviso, porque vivemos de enganos.
Mentiras e improvisos mantêm os seres humanos                
Naquele tempo era outra vida, outro jogo.                                             
Agora tudo é diferente: ao invés de água, virá fogo.                                                





Dinho, eu mesmo. 06/2011

terça-feira, 3 de maio de 2011

Língua

Eis aqui a minha temática:
Língua viva pela Gramática
Defendo o verbo, a pragmática;
Pois esta é bela, além de tática


A norma é pura teoria,
Inconveniente e vazia.
Às vezes, tão ruim e fria,
Que chega a causar cacofonia.


Vamos viver à nossa fala;
Pois regra nenhuma nos cala,
Já que a livre voz não entala




Notem que a voz do ambiente
Em que vivo com mina gente
Não é ao mundo inexistente...

(Dinho, eu mesmo - 06/2006)

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Binóculos

Tenho meus óculos sobre a estante
E tenho meus olhos sobre a poltrona.
Estes daqueles não saem um instante,
Pondo meu eu à imagem matrona.








Por eles sou o que sou: um normal:
Que não pode a vida sem suas lentes;
Que não pode ser vivo sem canal;
Que não pode excetuar-se das gentes...






Tenho meus olhos e tenho meus óculos,
E, através deles, um  mundo feliz,
até que alguém me ofereça binóculos.










Então revejo tudo o que não fiz,
E meus regalos em tão falsos rótulos.
Agora, veja, sou louça... sou de giz...

domingo, 3 de abril de 2011

Outra crônica

Resenha Crônica

Neste exato momento começa a nascer a resenha das resenhas e a crônica das crônicas. É verdadeiramente uma na outra, entrelaçadas e costuradas como uma única criação.
Ainda por ser publicada, esta crônica será resenhada durante seu próprio nascimento, numa espécie de autocrítica contínua e infindável. Por outro lado, quem vier a ler esta crítica verá que ela analisa um texto metalingüístico, cuja abordagem indica, nas entrelinhas, como não se deve resenhar uma crônica; se é que esta é passível de ser resenhada.
O autor das obras aqui presentes inicia seus trabalhos com uma perfeita noção do que é ser presunçoso e abusado. Seu senso de autocrítica, logo de inicio, parece estar bem distante da serenidade de saber o que está ou virá a escrever. Prova disso é a ousadia do escritor ao se referir ao presente texto como “obras aqui presentes”.
Daí então, ver-se-á que, de qualquer pessoa que venha a ler isto, surgirá a seguinte questão: quais são as obras aqui presentes?
Para começar, uma resenha deve ter a objetividade de indicar sobre o que ela está falando. E para isso, é necessário que seu objeto de análise exista de fato e possa ser comprovado - nesse caso, lido. Bom, se isto aqui é uma resenha, obviamente eu, você ou qualquer outra pessoa está lendo uma análise. No entanto, não me parece que ela está falando de um outro texto propriamente dito. Além do mais, isto tampouco me parece uma crônica, visto seu corpo não estar de acordo com o tipo textual apropriado. Ou seja, não vejo aqui nem uma resenha nem uma crônica. E quer saber por quê?
Porque, para uma crônica, esta coisa aqui não tem um começo bem definido. Não tem um desenrolar de fatos claro, objetivo. Não é um ”causo” em si. Não tem trama, conflito, nada. Ao ler uma coisa como esta, não se sabe como começou a leitura nem como ela terminará.
Portanto, isto não é uma crônica. E se não o é, não existe. E se não existe, não pode ser resenhada; não sendo, consequentemente, uma resenha também.
E para matar de uma vez esse problema crônico literário, é melhor que ninguém mais insista em ler isto, visto que a presunção do escritor juntou-se à confusão do narrador, o qual já não sabe se é um autor enlouquecido ou se é um crítico criado para um texto que nem nasceu.

(Dinho, eu mesmo - 04/2011)


quarta-feira, 30 de março de 2011

Hipócrita Humano

Para,                               des-
                              
                    ser                 
                                              
                         Humano!
                
 Hipócrita
                                               
                                                                           É


Fácil


Demais...





Dinho, eu mesmo – 03/2011

quinta-feira, 24 de março de 2011

Um sonho transcrito num poema


Não estou

A perder-me de vista
 Nos horizontes alheios do mundo,
Que o destino incerto me engula e me invista
Em repente futuro fecundo...
Sumo-me e não me vejo
Estagnado num mundo fixo;
Pois o fixo não me dá ensejo
E o previsto é sempre monótono, prolixo...
Ao leste, ao sul; ao oeste ou ao norte...
Não sei e não me sinto confuso;
Porque não tenho direção que me importe
E somente ao acaso é que me conduzo...

Querendo alguém me encontrar em lugar algum,
Que não me cace onde me exija pouso.
O nomadismo, pois, é minha vida comum,
E sob copas e céus incertos é onde repouso...
  

(Dinho, eu mesmo - Agosto de 2010)

terça-feira, 22 de março de 2011

Que tal uma crônica?

Dejavú

A impressão que tenho algumas vezes, quando estou diante de certas situações, é a de que já as vivenciei. É como se eu já tivesse visto a sequência dos fatos antes de todo mundo. O problema, porém, e isso é o que mais me intriga, é que o final dos fatos nunca é como na, digamos, previsão. Parece mesmo que esse tal Dejavú só acontece para evitar que as coisas terminem como deveriam terminar.

Eis que um dia a professora de Português pede para fazermos uma redação - uma crônica, para ser mais exato. E não é que me vem esse tal Dejavú!

Como que em transe, começo a visualizar toda a atividade: a sala em silêncio, as recomendações da professora, o nervosismo de alguns alunos ante o desafio de uma redação e, é claro, a minha tranqüilidade, a minha soberania. Sim, eu estava me sentindo um soberano da literatura. O meu causo já estava na ponta da língua - quero dizer, na ponta da caneta, pronto para surpreender as expectativas da professora com a melhor crônica da classe.

Sobre o que eu iria escrever? Ah, o pior é que eu não sabia. Porque na verdade o Sr. Dejavú não pôs somente um causo na ponta da minha esferográfica, mas vários. E mais ainda: ele não teve o bom senso de me avisar que o tempo estava passando e que eu precisava me decidir.

E passando foi o tempo... os outros alunos, entregando seus textos... a professora já corrigindo-os... e eu...? Bom, eu tamborilava a mesa com as pontas dos dedos, como a embalar a fuga da minha criatividade montada num Dejavú também fugitivo. E olha que eu sabia que uma crônica era um texto não muito longo, sobre algo do cotidiano e engraçado, sem muitos personagens e não sei mais o quê. Mas a danada não me saía e a professora já me perguntava repetidas vezes se eu já havia terminado.

De repente, uma luz! Ou melhor: uma escuridão!!! A professora estava vindo em minha direção. Só restávamos nós dois na sala. E veio-me outra visão, outro Dejavú. Triste. Desolador.

Apenas para me complicar, dessa vez o fim dos fatos foi igualzinho ao da minha visão. Para a minha infelicidade, o Dejavú não alterou em nada a minha real situação. Pois a professora me dispensou sem que eu tivesse feito nada de crônica. Sem que eu tivesse nada para comentar com os outros "cronistas". Enfim, sem nenhuma avaliação.
 (Dinho, eu mesmo- 03/2009)

sábado, 19 de março de 2011

Um soneto à sua interpretação

 Beba da minha fonte eterna-graciosa
 De água límpida e com uma essência de rosa
 E terá de volta toda a sua juventude
 Bem como o seu maior tesouro: a sua virtude


 Provaram da minha fonte tantos outros seres
 Que hoje são exemplos de direitos e deveres
 E voltando a ser jovem com sua atitude
 Cada um deles atingiu sua plenitude


 Agora sou eu quem lhe convida a vir beber
 Dessa pura água a qual renovará seu ser
 E lhe fará uma pessoa em magnitude


 E terá ainda você o sucesso amiúde
 Com uma vida juvenil e assaz graciosa
 Não haverá jamais fortuna mais preciosa


(Dinho, eu mesmo - 02/2011)

sexta-feira, 18 de março de 2011

Mais um poema para reflexão

Lixo?

Uma casca de banana maltrapilha,
Que adormece e sobrevive na sarjeta.
Não tem pai nem mãe, irmãos, avós ou filha.
Limpa pára-brisas por uma gorjeta.

 
Tiraram-lhe as ruas a sua essência,
Transformando-a em lixo sem qualquer casta.
E disso os transeuntes não têm ciência.
Não há sequer uma alma p’ra dizer “basta”.


A primeira estrofe é qualquer humano;
As outras falam do que lhe acontece,
Tal qual dia tão feio um podre burguês


Humilhou e pisou no pobre fulano.
E, falando tão baixo quanto uma prece,
 “Pisei e pisaria mais uma vez”.


(Dinho, eu mesmo - 02/2011)

quarta-feira, 16 de março de 2011

Um simples poema para reflexão

Motivos pelos quais o homem se perde em si mesmo

Quando o homem perde o tato ao solo,
O paladar das palavras,
O olfato às verdades,
A visão aos contextos,
E a audição ao alheio...


Ele perde, também, o espaço aos seus entes...

Dinho, eu mesmo (03/2011)